– Desde quando você sabe cozinhar?
– Desde o dia em que você saiu pela porta com um monte de malas na mão dizendo que era melhor surfar do que ficar aqui!
– Você vai jogar isso na minha cara pro resto da vida né?
– Espero que não, afinal, se eu for jogar isso na sua cara o resto da vida quer dizer que não vou me livrar de você nunca.
– Veja bem, eu fui embora, voltei e você me chamou para almoçar depois de assinar o divórcio, eu não te procurei.
– Eu sei disso, te chamei para almoçar porque não quero acabar um casamento em meio a desentendimentos e mágoas, vivemos momentos bons, devemos lembrar só desses momentos.
– Sim, você tem razão, não deveria então ficar me atacando com as atitudes que eu tive.
-Tudo bem, só estou um pouco nervosa, nunca pensei em passar por algo assim.
– Eu também nunca pensei, apesar de conhecer um monte de pessoas divorciadas.
– Também conheço, isso é triste, acho que todos deveriam acertar de primeira nessas coisas de amor.
– Mas nós acertamos, só não conseguimos viver juntos, isso não tem nada a ver com falta de sentimento.
– E quando existe amor mesmo não deveria existir paciência e entendimento?
– Deveria mas nem todos conseguem.
– Sem esforço não consegue mesmo.
– Esta dizendo que não me esforcei?
– Não estou acusando você só estou comentando um fato.
– Tudo bem, melhor mudar de assunto!
-Melhor mesmo!
– O cheiro está ótimo, você fez curso de culinária?
– Não, comprei um livro enorme de receitas, pesquisei dicas na internet e pronto, resolvi que deveria aprender a cozinhar!
– Você dispensou a cozinheira?
– Não, ainda preciso da ajuda dela, nem sempre tenho tempo de cozinhar e acredite, ainda preciso me concentrar muito para fazer tal coisa.
– Entendi…e as flores como estão?
– Ótimas, estão ainda mais bonitas, recebi muitos contatos de pessoas querendo um jardim igual, cheguei a montar em tamanho menor para um casamento.
– Jardinagem é legal.
– É a minha vida.
– Sempre foi?
– Sempre, claro que houve muitos dias em que as minhas flores dividiram esse título com você.
– Bonito isso, fico feliz de ouvir algo assim!
– Nada foi em vão Guilherme.
– Antes você me chamava de Gui.
– Muita coisa mudou não é?
– Ma se você me chamar de Guilherme vai parecer estar brava comigo, eu não pretendo te chamar de Elizabeth, só de Liza.
– Fico imaginando eu falando de você para outro e te chamando de Gui!
– Você não precisa falar de mim para outro, caso esse outro pergunte ai sim, você chama de Guilherme.
– Enquanto a gente discute como vamos nos chamar o meu macarrão de forno esta esfriando.
– Verdade, vamos comer logo, comida fria não é legal, esta com uma cara ótima!
– A sobremesa também.
– E qual vai ser?
– Torta holandesa!
– A minha preferida? Não sabia que ainda pensava em mim.
– Por enquanto ainda penso.
– Também penso em você, pensava até quando estava do outro lado do mundo.
– Mas não ligou!
– Se eu ouvisse sua voz eu voltaria correndo mesmo sabendo que seria inevitável outro desentendimento e o divórcio, melhor que fosse tudo resolvido a distância.
– Gosto mais de você quando estamos longe.
– Somos tão complicados!
– Vai ver, vamos ser sempre assim, vamos nos gostar com uma certa distância.
– Provável.
– Quando você volta para a Austrália?
– Mês que vem.
– Você vê cangurus?
– Vejo o tempo todo, porque você não vai me visitar?
– Não seria estranho?
– Liza, nós assinamos um papel que diz que não somos mais casados, não tem nada sobre não ter mais contato um com o outro, eu gosto de você, não consigo viver sem você, eu preciso de você nem que seja como amiga, nenhum papel vai conseguir tirar o que sinto por você, somos diferentes demais em nossas escolhas do que é viver, só isso.
– Você tem razão, também não sei viver sem você, vou te visitar nas férias!
– Vá sozinha, devo ressaltar isso!
– Sozinha?
– Não estou preparado para ver você com outro, desculpe.
– Eu não estou preparada para ser tão conhecida por outro, relaxa.
– Gostei do macarrão, já pode casar!
– Posso?
– Daqui a uns 30 anos, pode!
– Besta!
– Fiz você sorrir!
– Acredite, por mais que eu tente o contrário, você sempre consegue me fazer sorrir, em qualquer lugar de qualquer jeito.
Texto: Luana Barreto.
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