Tá legal, eu devo ser a única mulher do mundo que vem ao fliperama, que sem noção!
Era só isso que se passava em minha cabeça naquela tarde em plena segunda feira, não ter patrão tem as suas vantagens.
Cheguei naquele fliperama cheio de crianças correndo para todos os lados, voltei a infância por alguns segundos e pensei em como era bom viver assim sem pensar em problema algum. Carreguei aquele cartão cheio de cores e fui escolher algum jogo e foi quando eu ouvi um barulho e fui conferir, lá estava ele sacudindo a máquina de pinball.
Achei graça do seu jeito, logo uma atendente veio saber o que estava acontecendo, algum problema com a máquina provavelmente.
Resolvi escolher um jogo de carro próximo a ele, não sabia bem o porque mas eu queria ver a continuação daquela história.
A atendente foi embora e ele continuou o jogo concentrado, estava todo empolgado e apesar de aparentar ter mais de vinte anos o brilho em seus olhos o deixava com uma expressão de menino, nem preciso dizer que meu jogo ia muito mal a essa altura, incrível como consigo ser distraída!
Não passou muito tempo e ele começou a sacudir novamente a máquina, coçou a cabeça , olhou para todos os lados e eu não pude deixar de rir, o som do meu riso saiu um pouco alto demais, o suficiente para ele me encarar.
Seu rosto ficou um pouco vermelho e então ele sorriu também e apontou para a máquina um pouco sem graça e gaguejando:
– É a… a máquina, aqui, a bolinha sabe? Ela sumiu!
Eu ri de novo.
– E a atendente já não arrumou?
– Sim, ela deu um jeito aqui, mas essa coisa resolveu sumir com a bolinha de novo e eu nem terminei o jogo, como vou pegar meus tickets?
– Essa máquina não tem ticket…
– Não tem ticket? Caramba, além de não funcionar direito não tem ticket!
– Ticket é nos leitores amarelos.
– O que?
– As máquinas que dão tickets tem o leitor amarelo!
– Você entende muito de fliperama hein?
– Devo entender.
– Qual seu nome?
– Meu nome?
– Sim, seu nome, qual é o seu nome?
Eu parecia uma completa idiota, o olhar dele me distraia mais do que o normal.
– Claro, meu nome… Meu nome é Lucy!
– Lucy? Legal seu nome, o meu é Diego, prazer.
– Prazer Diego.
– Preguiça de chamar a atendente, não quer chamar pra mim não?
– Eu não!
– Mas é só uma escada!
– Mas eu também tenho preguiça de ir lá!
– Chata você.
– Isso realmente eu sou. Bom, a chata aqui vai descer, cansei desses jogos aqui, prefiro com ticket.
– Você vai descer e não vai chamar a atendente?
– Não…
– Tudo bem eu chamo.
Desci a escadas e o meu novo amigo de fliperama correu para chamar a atendente. Fui escolher meu novo jogo quando Diego da um pulo e para na minha frente.
– Que susto cara, o que você ta fazendo?
– Nada, só quero saber o que você vai jogar.
– Um jogo.
– SÉRIO?
– Juro.
– QUAL jogo?
– aquele ali de acertar bolinhas, é fácil e ainda é um ótimo exercício físico.
– Boa ideia, vamos lá!
– Vamos?
– Quer jogar sozinha por acaso? Um time é bem melhor!
– Time de dois?
– Time de dois é melhor do que nada, além do mais eu posso dizer que estou valendo por dez.
– Você é meio doido né?
– Eu? Não, por quê?
– Sei lá, você me conhece a alguns minutos e já está querendo formar time.
– Eu sou doido e você é antissocial então.
– Pode ser sendo assim eu vou indo.
– Mas eu quero jogar ali também.
– Então eu escolho outro!
– Deixa de ser tola, eu sei que você esta fingindo não querer jogar comigo, não se preocupe que eu não vou te agarrar ta?
– Como é que é? To falando que você é doido, eu não falei nada sobre isso.
– Não precisa falar to vendo que você esta meio sem graça.
– Quer saber? Acho que eu vou é comprar um sorvete, to ganhando mais.
– O sorvete é melhor que a minha companhia?
– Não, é que sei lá…
– Ta com medo de mim?
– Olha, pensa comigo, não te conheço e você ta me tratando como se me conhecesse a muito tempo…
– Você que começou!
– Eu que comecei?
– Claro você que riu pra mim sem nem me conhecer!
Me calei, ele tinha razão.
A minha mania de fazer as coisas sem pensar está começando a me causar problemas.
– Que foi?
– Que foi o que?
– Você me chama de doido e de repente fica ai pensando sem falar nada olhando pro nada, eu hein!
– Desculpa, você tem razão, eu que comecei mas foi sem querer ta? Desculpa mesmo, eu vou indo.
– Mas eu nem to com raiva nem nada e você ai me pedindo desculpas, você é tão encanada, relaxa garota!
– Ta, ta bom, para de falar!
– Além de doido eu sou tagarela também?
– É, é sim, eu to confusa, caramba, eu quero sorvete, só quero sorvete e pronto, eu vou embora.
– Eu também quero sorvete.
– Quer nada, você quer jogar naquela máquina ali.
– Não quero mais, vou comprar sorvete!
– Ta querendo me perseguir agora? O que foi? É um maníaco ou algo assim?
– Não, não sou nada dessas coisas, sou um cavalheiro que não vai deixar uma senhorita distraída se perder para encontrar o seu sorvete.
Faço uma cara de espanto, ele é doidinho mesmo, um doidinho bem atraente, mas é doidinho.
Fico me perguntando como eu vou me livrar dele, depois começo a me perguntar se eu quero mesmo me livrar dele, caramba como eu sou confusa.
Saio andando sem falar nada, depois de sair de lá olho para trás, ele esta parado de braços cruzados me olhando, isso me irrita profundamente. Faço sinal de “e ai?” e ele sorri. Mexe no cabelo, se espreguiça e começa a andar em minha direção.
– Você é estranho!
– Nem te conheço direito e você já fica me chamando de estranho, to com medo de você!
– Para com isso, essa frase é minha!
Ele pega na minha mão e me puxa procurando uma sorveteria, eu começo a rir sem acreditar no que está acontecendo. Castigo, carma, vai ser sequestrada, ele tem problemas sérios, não sei, realmente não sei, acho que vem muita conversa nessa sorveteria.
Aposto que vou ficar perturbada, ele fala demais.
Imagem: Musicloveandouthersdrugs.blogspot.com
Texto: Luana Barreto.
Tags:discussão, doido, fliperama, O fliperama, texto